quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Os meus poemas: diminuir a luz

diminuir a luz

esta é apenas mais uma preocupação nocturna
como todas as outras
que nos acompanham
quando estamos a adoecer

quando esta voz
se instala
no peito adormecido
e faz diminuir a intensidade
das palpitações
do coração que está de fora

ela é mais do que uma palavra espelhada noutra
é mais medrosa do que isso

e a certeza que transparece
a certeza de estar a ser transformada
por uma espécie de portão
que se abre à minha frente
e assinala uma passagem dolorosa
faz-me temer o confronto
num espaço periclitante
entre os passos que dou
e os sons dos passos dos outros

receio a minha identidade
tanto como a minha clarividência febril
e na debilidade própria da lucidez
falta-me a fragilidade
para ser funâmbula

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