domingo, 28 de março de 2010

Ruy Belo: O Percurso Diário


O PERCURSO DIÁRIO

Eu vou por este sol além
e ele é quotidiano até ao fim
como se até hoje ninguém
tivesse no sol e fora do sol também
morrido a morte por mim


Natália Correia: O Sol nas Noites e o Luar nos Dias

Natália Correia

O SOL NAS NOITES E O LUAR NOS DIAS

De amor nada mais resta que um Outubro
e quanto mais amada mais desisto:
quanto mais tu me despes mais me cubro
e quanto mais me escondo mais me avisto.

E sei que mais te enleio e te deslumbro
porque se mais me ofusco mais existo.
Por dentro me ilumino, sol oculto,
por fora te ajoelho, corpo místico.

Não me acordes. Estou morta na quermesse
dos teus beijos. Etérea, a minha espécie
nem teus zelos amantes a demovem.

Mas quanto mais em nuvem me desfaço
mais de terra e de fogo é o abraço
com que na carne queres reter-me jovem.

Saber de cor a diferença

saber de cor a diferença

apelo pelas primeiras sensações
as sensações que julgamos duradouras

elas são afinal o manto que cobre o medo
o medo de medir momentos movediços

mal posso esperar pelo ar fresco
aquela libertação interna irregular
que sentimos quando deixamos de lutar

não vale a pena tentar segurar
o suspiro sonhador sem saborear antes
as labaredas de um fogo que arde antes de se acender

sei ser fiel ao património deixado
por quem já morreu uma morte lenta e latejante
não acredito que haja mortes triunfantes

mesmo a vida que é pensada de antemão
não pode simplesmente ser perdoada pelo perdão
perder a identidade é tão-somente deixar de existir
entre as certezas recalcadas da memória
para existir entre incertezas inimputáveis
próprias de uma lógica ininteligível

a diferença dos dias distantes que nascem colados
muitas vezes nos diz o que ainda não foi falado
muitas vezes nos atira novamente para o tempo perdido
onde queremos saber de cor a diferença

o que nos distingue dos outros
é quase sempre igual
ao desejo de querer estar momentaneamente fora do nosso corpo
e aceitar
que o desconhecido
é ver o nosso reflexo reflectido
no reflexo de outra pessoa

Internal bleeding

the prison you're in
always looks scarier
than the internal bleeding
that will lead you to your ruin

Poema do dia: Bocage

Bocage

Aquele,a quem mil bens outorga o Fado,
Desejo com razão da vida amigo
Nos anos igualar Nestor, o antigo,
De trezentos invernos carregado:

Porém eu sempre triste, eu desgraçado,
Que só nesta caverna encontro abrigo,
Porque não busco as sombras do jazigo,
Refúgio perdurável, e sagrado?

Ah! bebe o sangue meu, tosca morada;
Alma, quebra as prisões da humanidade,
Despe o vil manto, que pertence ao nada!

Mas eu tremo!...Que escuto?...É a Verdade,
É ela, é ela que do céu me brada:
Oh terrível pregão da eternidade!

sexta-feira, 26 de março de 2010

Novidades da Semana: boas novas

Parece que este semana tivemos duas boas notícias, pelo menos:

a) Novo álbum de Anathema em Maio, dia 31 de Maio, escolheram os meus anos, parece-me bem

b) Novo álbum de Nevermore em Maio, dia 31 de Maio, escolheram os meus anos, parece-me bem.

Acho que tiveram queda para a coisa, assim já sei que vou ter pelo menos estas duas prendas seguras. De resto, é óptimo saber que duas das minhas bandas favoritas continuam activas e a produzirem novos discos. Curiosamente, tanto Anathema como Nevermore, demoram bastante tempo a fazer os seus respectivos novos álbuns, mais do que 4 anos parece-me sempre muito tempo. Mas, tanto num caso como noutro, a coisa tem resultado. Eu, pelo menos, não tenho razão de queixa. Aliás, acredito que as duas bandas se conseguem superar facilmente e criar sempre boa música que me agrada e me transporta para um mundo diferente deste em que vivo diariamente. E não é esse o poder da música? Para mim, um álbum sempre foi mais do que um álbum, é um experiência, uma experiência sonora, sentimental, emocional, interna, reflexiva, agressiva. Uma experiência extra corporal. Extra sensorial. E é por esta razão que eu não consigo simpatizar com o ouvinte aleatório e desligado de música. Consigo lidar com o facto de essas pessoas existirem, sem grande esforço mental, mas não consigo desligar-me desta visão transcendental da música. É claro que a música oferece coisas diferentes a pessoas diferentes, mas mesmo assim não consigo acreditar que consumir um álbum como se fosse comida rápida de plástico seja a melhor forma de aproveitar o talento que anda por aí.
If you don't understand what I'm talking about, watch this video:
One of the best shows I've ever been to, all my favourite shows were in Incrível Almadense, I love the place, it's so tiny and cozy that it makes it even better.

Two-faced

two-faced people make me nervous.



sábado, 20 de março de 2010

Conhecendo Luíza Neto Jorge: dois poemas

Luíza Neto Jorge

a) Desinferno I

«O esquecimento da morte
faz o mundo fermoso»

Elas mortos irão fazer nascer
Eles não virão da guerra nuclear
Vós com a bomba de neutrões ireis voar
Vamos nós neutrais no holocausto arder

Num sismo ela soçobra ou num tufão
Ele tomba de um mal inda insciente
Tu estoiras de cisma ou de ambição
E morro eu de morte como toda a gente


b) Desinferno II

Caísse a montanha e do oiro o brilho
O meigo jardim abolisse a flor
A mão desmoesse as carnes do filho
Por botão de vídeo se fizesse amor

O livro morresse, a obra parasse
Soasse a granizo o que era alegria
A porta do ar se calafetasse
Que eu de amor apenas ressuscitaria

Foto + poema

the neverending
walk of life


pensamentos aleatórios



Random thoughts:

have you come here to warn me

of what I cannot see

Fonte da fotografia: http://www.sandrophoto.com/2007/11/24/photo-headers/

Fonte do pensamento: Dark Tranquillity: her silent language (música)

Poem of the day: Sonnet XVIII: On the Late Massacre in Piemont

Something old for you today.

John Milton

Sonnet XVIII: On the Late Massacre in Piemont

Avenge, O Lord, thy slaughter'd saints, whose bones
Lie scatter'd on the Alpine mountains cold,
Ev'n them who kept thy truth so pure of old,
When all our fathers worshipp'd stocks and stones;
Forget not: in thy book record their groans
Who were thy sheep and in their ancient fold
Slain by the bloody Piemontese that roll'd
Mother with infant down the rocks. Their moans
The vales redoubl'd to the hills, and they
To Heav'n. Their martyr'd blood and ashes sow
O'er all th' Italian fields where still doth sway
The triple tyrant; that from these may grow
A hundred-fold, who having learnt thy way
Early may fly the Babylonian woe.

segunda-feira, 15 de março de 2010

What I'm writing about

I'm reading Leviticus now. You might recognize that from the Bible. I'm using it as research for my next writing project: write about the sacrifices made for the sake of religion. It's all there for the world to see. No wonder people don't take the Bible literally, if they did, the world would be terrified and disgusted. No-one actually sits down to read it. Well, I make that exercise once in a while, I don't want to be part of the "ignorance is bliss" jargon. And, I write about religion sometimes, most of my poems about religion are somewhat controversial and offensive/aggressive. And they're like that for a reason.

random thought of the day

I'd rather use 100 words than 100 knifes.

Prefiro usar 100 palavras a usar 100 facas.

Quote of the day

Milan Kundera - The Unbearable Lightness of Being

"Love begins with a metaphor"

domingo, 14 de março de 2010

Poema do dia: The Night Poem

Margaret Atwood

The Night Poem (1978)

There is nothing to be afraid of,
it is only the wind
changing to the east, it is only
your father the thunder
your mother the rain

In this country of water
with its beige moon damp as a mushroom,
its drowned stumps and long birds
that swim, where the moss grows
on all sides of the trees
and your shadow is not your shadow
but your reflection,

your true parents disappear
when the curtain covers your door.
We are the others,
the ones from under the lake
who stand silently beside your bed
with our heads of darkness.
We have come to cover you
with red wool,
with our tears and distant whipers.

You rock in the rain's arms
the chilly ark of your sleep,
while we wait, your night
father and mother
with our cold hands and dead flashlight,
knowing we are only
the wavering shadows thrown
by one candle, in this echo
you will hear twenty years later.

Álbum do mês: We Are The Void


The newest addition to my CD collection is Dark Tranquillity's "We Are The Void". The most consistent and interesting band in the melodic genre to me is back. Regardless of what people say about them, and their misconceptions about the "gothemburg sound", Dark Tranquillity is a band that lives beyond that, and was always an original force in the metal scene since the 90s. They were never a cliché, they pushed the boundaries of what their sound could be and were always very deep in their lyrics, exploring much more than the surface of things. 20 years later, they release this album and it's a celebration for me and all fans alike. The best thing that could have happened to me this year was to have them play in Lisbon later this year, in October. It'll be the first time I'm gona have the pleasure of seeing them live, after so many years as a fan. Pretty sure I'm gona cry, as it always is when I first see a band live that has touched me and changed me so thoroughly. Let the celebrations begin...

And don't you feel like a void sometimes?

Visual Poetry: Allegiance

In the allegiance
between you and nature
there is a space between
that can only be penetrated
by your rambling thoughts
and indecision
when you open you arms
to the thin air
that is your life
when you breathe
inside that promise of belonging
you don't think about your lightness
or the unbearable light
you think about the possibilities
the cracks to fill
the strangeness
that is a part of you
you think about relief
and the parable
that is
waking up everyday
on top of the open mouth of a mountain

sábado, 13 de março de 2010

Poema do dia: The Girl With Many Eyes

Tim Burton

The Girl With Many Eyes (em The Melancholy Death of Oyster Boy)

















One day in the park
I had quite a surprise.
I met a girl
who had many eyes.

She was really quite pretty
(and also quite shocking!)
and I noticed she had a mouth,
so we ended up talking.

We talked about flowers,
and her poetry classes,
and the problems she'd have
if she ever wore glasses.

It's great to now a girl
who has so many eyes,
but you really get wet
when she breaks down and cries.

O livro que vou ler a seguir: The Night Watch



Para quem não conhece, Sarah Waters é já um grande nome da literatura contemporânea, tendo sido nomeada para o Man Booker pelo menos 3 vez, que me lembre assim de cabeça. Nunca ganha é certo, mas continua sempre a escrever livros interessantes. Eu li o Affinity em uma semana, lembro-me de o devorar todas as noites (nessa altura ainda tinha tempo para devorar livros dessa forma). O livro que se segue é o "The Night Watch", sendo que já vi e li i Fingersmith, o Tipping the Velvet só vi o filme, e vi também a adaptação ao cinema do Affinity. Portanto, este vai ser o primeiro livro dela que vou ler sem que haja ainda uma adaptação disponível, o que até me agrada. E depois de tanto tempo a adiar, lá encomendei o livro, e conto começar a lê-lo para a semana, e perder-me naquele mundo, que é muito próprio dos livros de Sarah Waters, e sejamos sinceros, é sempre bom ler autoras. Há uns anos atrás diria que 80% do que lia eram autores, poetas, agora estou a balancear e faço questão de ler 50-50%. Não porque me obrigo a ler obras escritas por mulheres, mas porque simplesmente agora lhes dou uma oportunidade, e tenho mais curiosidade. Também é verdade que agora estão disponíveis muito mais livros escritos por mulheres, sendo muitos ainda silenciados e retirados do status quo. Mas agora eu tenho o poder de os descobrir se quiser, eles estão nas estantes, nas faculdades, nas bibliotecas, por toda a internet. Se há algo de bom que a internet trouxe foi o livre arbítrio, não estamos tão condicionados pelo que a imprensa, media, e afins, nos atira à cara, temos os nossos próprios meios de decisão. O outro lado, o negativo, é quando essa liberdade é levada ao extremo, sem regras, anarquia de circulação. Mas escolho olhar para isto de uma forma positiva. Afinal de contas, posso ler o que quero, e não o que me mandam ler. Posso sair do sistema, se quiser.

domingo, 7 de março de 2010

Poema do dia: Small Female Skull

Carol Ann Duffy

Small Female Skull (em Mean Time)

With some surprise, I balance my small female skull in my hands.
What is it like? An ocarina? Blow in its eye.
It cannot cry, holds my breath only as long as I exhale,
mildly alarmed now, into the hole where the nose was,
press my ear ito its grin. A vanishing sigh.

For some time, I sit on the lavatory seat with my head
in my hands, appalled. If feels much lighter than I'd thought;
the weight of a deck of cards, a slim volume of verse,
but with something else, as though it could levitate. Disturbing.
So why do I kiss it on the brow, my warm lips to its papery bone,

and take it to the mirror to ask for a gottle of geer?
I rinse it under the tap, watch dust run away, like sand
from a swimming-cap, then dry it - firstborn - gently
with a towel. I see the scar where I fell for sheer love
down teacherous stairs, and read that shattering day like braille.

Love, I murmur to my skull, then, louder, other grand words,
shouting the hollow nouns in a white-tiled room.
Downstairs they will think I have lost my mind. No. I only weep
into these two holes here, or I'm grinning back at the joke, this is
a friend of mine. See, I hold her face in trembling, passionate hands.

sábado, 6 de março de 2010

Poema do dia

Billy Collins

Litany
You are the bread and the knife,
The crystal goblet and the wine...

—Jacques Crickillon

You are the bread and the knife,
the crystal goblet and the wine.
You are the dew on the morning grass
and the burning wheel of the sun.
You are the white apron of the baker,
and the marsh birds suddenly in flight.

However, you are not the wind in the orchard,
the plums on the counter,
or the house of cards.
And you are certainly not the pine-scented air.
There is just no way that you are the pine-scented air.

It is possible that you are the fish under the bridge,
maybe even the pigeon on the general's head,
but you are not even close
to being the field of cornflowers at dusk.

And a quick look in the mirror will show
that you are neither the boots in the corner
nor the boat asleep in its boathouse.

It might interest you to know,
speaking of the plentiful imagery of the world,
that I am the sound of rain on the roof.

I also happen to be the shooting star,
the evening paper blowing down an alley
and the basket of chestnuts on the kitchen table.

I am also the moon in the trees
and the blind woman's tea cup.
But don't worry, I'm not the bread and the knife.

You are still the bread and the knife.
You will always be the bread and the knife,
not to mention the crystal goblet and—somehow—the wine.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Secrets - segredos

Secrets are so sinister...

that you might as well keep them...

to yourself...