domingo, 28 de março de 2010

Saber de cor a diferença

saber de cor a diferença

apelo pelas primeiras sensações
as sensações que julgamos duradouras

elas são afinal o manto que cobre o medo
o medo de medir momentos movediços

mal posso esperar pelo ar fresco
aquela libertação interna irregular
que sentimos quando deixamos de lutar

não vale a pena tentar segurar
o suspiro sonhador sem saborear antes
as labaredas de um fogo que arde antes de se acender

sei ser fiel ao património deixado
por quem já morreu uma morte lenta e latejante
não acredito que haja mortes triunfantes

mesmo a vida que é pensada de antemão
não pode simplesmente ser perdoada pelo perdão
perder a identidade é tão-somente deixar de existir
entre as certezas recalcadas da memória
para existir entre incertezas inimputáveis
próprias de uma lógica ininteligível

a diferença dos dias distantes que nascem colados
muitas vezes nos diz o que ainda não foi falado
muitas vezes nos atira novamente para o tempo perdido
onde queremos saber de cor a diferença

o que nos distingue dos outros
é quase sempre igual
ao desejo de querer estar momentaneamente fora do nosso corpo
e aceitar
que o desconhecido
é ver o nosso reflexo reflectido
no reflexo de outra pessoa

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