Acho que não há nada no mundo que eu goste mais para além de livros e música. Acho que isso é bastante claro em relação ao que eu sou. Recentemente, num espaço de alguns meses, a banda sueca Pain of Salvation passou de uma banda que ouvia esporadicamente para uma banda da qual me tornei fã. Para muito contribuiu este "Road Salt One" que me ajudou na reconciliação com alguns álbuns passados da banda. Na verdade, e talvez o destino tenha destas coisas, o que me faltava para realmente gostar desta banda era dar tempo ao seus álbuns, deixá-los entrar-me pela pele e pelo ouvido adentro e ouvi-los. Ouvi-los muitas vezes. Isto aconteceu com todas as bandas das quais sou hoje fã, tive de ouvir os álbuns muitas vezes, e não é só por ser música progressiva, é porque álbuns especiais não são para ouvidos treinados para ouvir. No fundo, eu sou fã de bandas como os Pain of Salvation porque eles não fazem álbuns para o ouvido treinado e mecanizado, fazem arte em forma de música e letras ligadas num só meio expressivo, libertam fantasmas e partilham com quem esteja disposto a ouvir e a sofrer com eles, a reviver os sentimentos que eles nos lançam. Quando temos a coragem de os agarrar, como é o caso, posso não ser corajosa em muitas outras coisas, mas no que diz respeito à música, eu dou o peito às balas inocentemente, sempre procurando aquele sentimento primitivo. Na nossa vida há coisas que nos mudam, há coisas que respeitamos por serem belas, há coisas que respeitamos porque nos tornam melhores, há coisas que respeitamos porque ajudam a fechar a ferida. Sim, é verdade que álbuns como "Entropia", "The Perfect Element, Part I" e agora o "Road Salt One" colocam o dedo na ferida, abrindo e remexendo lá dentro, mas tão contraditoriamente ajudam na catarse pela intensidade sentimental que revelam. Sou muito sensível a este tipo de bandas e álbuns. E é por isso que decidi destacar mais uma banda, que acaba por ser não mais uma, mas uma banda que se destaca das outras, principalmente pela verdade que emana da sua vasta discografia. E a verdade é sempre desvalorizada quando se fala de música, na minha opinião, raramente desvalorizada. Oiçam o álbum e depois quero ver quem tem a coragem de me dizer que a verdade não interessa. "Road Salt One", um dos melhores álbuns do ano e nem sequer estamos a falar de metal. E nem esse tipo de conversa faz sentido porque os Pain of Salvation sempre foram mais do que uma banda de metal progressivo, sempre foram mais do que um estado musical fixo. E vão sê-lo sempre, com ou sem o reconhecimento daqueles que ainda têm coragem de ouvir música.
Ah, e vou fazer essa coisa impensável que é comprar o CD original. Eu sei que quando digo isto as pessoas começam a julgar-me e vêem em mim uma pessoa louca e desactualizada. Mas para mim, o melhor do presente não é um mp3 e um iPod e um Blackberry que podem levar 10 mil músicas que roubamos na net. O melhor é mesmo ainda haver bandas que lançem um disco físico, que possa ser comprado nas lojas, que tenha um booklet e artwork e as letras que a banda escreveu, e quem compôs as músicas e quem tirou as fotografias para o booklet, e o símbolo da banda no CD e o alinhamento de canções na parte de trás do CD, e os agradecimentos da banda à família e aos fãs que ainda compram o CD.
Road Salt One, song "She Likes to Hide":
Cause I am where I like to hide
I am where I like to hide
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