quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Poema do dia

Nunca escondi que acho que gosto muito do Peixoto, especialmente quando escreve poesia.

José Luís Peixoto

DESCRIÇÃO DO MARTÍRIO (em A Casa, a Escuridão)

lançam-no no chão e as lâminas. cortam-lhe os braços
e, depois, as pernas. arrancalham-lhe os braços e as pernas
do corpo. sim, o sangue.

deixaram-no sozinho e o corpo. lentamente apodreceu devagar.
a pele e a carne a apodrecerem diante das crianças e da inocência.
a carne podre até aos ossos.

o martírio foi quando ela partiu. ele olhou para ela. e não
conseguiu acenar, não conseguiu dizer palavras impossíveis
como a palavra adeus.

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